Exposição demasiada diante da televisão diminui a capacidade de concentração das crianças. Duas horas por dia diante da tela aumentam o risco de transtornos de atenção. As últimas investigações revelam que os videogames também diminuem a capacidade de atenção. Pesquisadores da Nova Zelândia analisaram pela primeira vez os efeitos cognitivos a longo prazo das horas passadas diante da televisão na infância. Seus resultados indicam que o rendimento escolar pode ser refletido na adolescência.
As crianças que ficam mais de duas horas por dia diante da TV, quando cursam o primário, têm mais dificuldades de concentração ao chegar ao ensino médio do que aqueles que veem pouca televisão. Assim demonstra o primeiro grande estudo que analisou os efeitos a longo prazo do abuso da televisão na infância sobre a capacidade de atenção.
Dificuldades de concentração e a TV
"Nosso estudo sugere que os pais deveriam tomar medidas para limitar o número de horas que seus filhos assistem televisão”, declarou por correio eletrônico, Bob Hancox, diretor do estudo, da Universidade de Otago (Nova Zelândia).
Segundo os resultados apresentados na revista médica Pediatrics, as crianças que veem menos de duas horas à televisão por dia na infância, não aumentam seu risco de sofrer transtornos de atenção na adolescência. Mas a partir da terceira hora, o risco aumenta cerca de 44% por cada hora adicional que se passa cada dia diante da TV. “Os efeitos foram especialmente encontrados em crianças que assistiam à TV mais de três horas diárias”, destaca Hancox.
Crianças pequenas que passam mais de duas horas por dia assistindo à televisão correm duas vezes mais risco de desenvolver asma, de acordo com um estudo britânico publicado na revista de medicina respiratória Thorax. Os cientistas dizem, contudo, que o problema se deve menos à TV em si e mais ao estilo de vida sedentário ligado ao hábito de assisti-la.
O estudo da Universidade de Otago (Nova Zelândia), se baseou em 1.037 meninos e meninas, que foram examinados a cada dois anos desde os cinco aos quinze anos como marco da pesquisa sobre desenvolvimento infantil e saúde. Entre outras perguntas, pediu-se aos pais e crianças que dissessem quanto tempo assistiam televisão. Para avaliar se sofriam algum problema de déficit de atenção, perguntou-se aos menores, assim como aos seus pais e professores, se somente conseguiriam manter-se atentos durante um tempo anormalmente curto, se tinham uma baixa capacidade de concentração ou se distraíam com facilidade.
Por exemplo, fizeram perguntas como: “Quando alguém fala contigo, custa prestar atenção a ela?”; “Ocorre com frequência começar os deveres e não terminar?”; “Você custa fazer os deveres se existem ruídos, ou algum tipo de atividade física na casa?”. Estudos anteriores detectaram que o abuso da televisão na infância implica em problemas de déficit de atenção mesmo que ainda cursem o primário. Mas nenhum grande estudo havia analisado até agora se esses problemas perduravam até a adolescência. “Nossos resultados indicam que os efeitos da televisão sobre a capacidade de atenção são duradouros”, afirma Bob Hancox. Esses efeitos a longo prazo, foram comprovados em jovens que reduziram as horas de televisão antes de chegar ao ensino médio, mas os que apresentavam problemas relacionados com o abuso da TV na infância, se mantiveram.
Os pesquisadores alertam contra o costume de algumas famílias de ligar a televisão para que as crianças fiquem tranquilas, por exemplo, na hora do café da manhã. “A esses pais eu lhes diria que tratem de reduzir as horas diante da TV”, declara Hancox. “Além de tudo, as crianças conseguiam se entreter durante milhares de anos antes que a televisão fosse inventada”.
Efeitos dos videogames e computadores nas crianças
O estudo não analisou os efeitos dos videogames e dos computadores sobre o desenvolvimento das crianças e adolescentes porque a coleta de dados se iniciou antes do auge dessas novas formas de entretenimento. Mas os pesquisadores consideram que seus efeitos podem ser similares aos da televisão, porque o limite de duas horas diárias deve incluir todas as formas de ócio audiovisual somadas. Assim, se uma criança passa uma hora com videogame, não é aconselhável que assista televisão mais de outra hora no mesmo dia.
Os dados do estudo não deixam claro de que modo o excesso de televisão afeta a capacidade de atenção, mas apontam várias hipóteses. Umas das que apresentam como mais provável é que as imagens televisivas, com seus estímulos constantes, podem fazer que, em comparação à vida real, pareça monótona, de modo que as crianças tendam a se aborrecer diante de atividades que têm ritmos mais lentos como assistir aula ou fazer os deveres. Outra possível explicação é que o cérebro infantil, ainda em formação, desenvolva-se de maneira inadequada ao serem estimulados em excesso pelas rápidas sucessões de imagens dos programas de televisão. Existem ainda outras possibilidades: pode ser que ver televisão substitua outras atividades que favoreçam a capacidade de atenção, como ler, brincar ou praticar algum esporte, ou que a televisão favoreça a falta de atenção porque um pode sempre retomar o fio do programa mais tarde, ou que as crianças desatentas tenham mais preferência em ver televisão do que aquelas que não têm problemas de déficit de atenção. Ou todas juntas.
Em todo caso, a pesquisa não detectou que o abuso de televisão na infância afete ao risco de sofrer hiperatividade, a não ser unicamente aos transtornos de atenção. “Próximas investigações deverão clarear os possíveis mecanismos pelos quais a televisão cause problemas de atenção”, escrevem os pesquisadores no Pediatrics.
Tempo total passado diante da TV
Os autores do estudo reconhecem que alguns programas de televisão são educativos e benéficos para as crianças. Mas “o tempo total passado diante da TV no nosso estudo, associa-se com piores resultados educativos, assim que está claro que a maior parte da televisão que as crianças assistiram, foi contraproducente para a educação”, adverte Hancox. Além disso, completa, “os efeitos da televisão sobre a capacidade de atenção podem não ter nada a ver com os conteúdos, mas estar relacionados com as bruscas mudanças de cena, característicos da TV; se isso é assim, inclusive os programas educativos, em excesso, seriam negativos para a capacidade de atenção”.
Comportamentos violentos, condutas sexuais de risco, baixo rendimento acadêmico, escassa auto-estima corporal, nutrição desequilibrada, obesidade e consumo de drogas, encabeçam a lista de problemas derivados de um consumo excessivo ou inadequado de programas de televisão na infância e na adolescência, adverte a Academia Americana de Pediatria (AAP).
Nenhum comentário:
Postar um comentário