“Culto doméstico” é o momento separado especialmente para adoração a
Deus no ambiente familiar. Também chamado de “culto em família” ou
“devocional no lar” esse evento consiste na prática diária de leitura
bíblica, orações e cânticos em família. Essa prática corrige o erro
religioso de se lembrar de Deus apenas nos momentos de crise ou aos
domingos. Um dos efeitos do culto doméstico é celebrar a realidade da
presença de Deus nos momentos comuns da família.
Conquanto importante, o fato é que o culto doméstico tem sido “um tesouro perdido da maioria do povo de Deus”. A correria diária, os problemas da vida e, sobretudo, as prioridades
invertidas dos cristãos tornaram essa prática algo quase esquecido entre
as famílias crentes.
Diferente do que algumas pessoas pensam, o culto doméstico não
precisa ser um momento “maçante” e “chato”, mas pode ser uma excelente
ocasião para edificação espiritual e comunhão familiar. O escritor David
Merk, em seu livro, "101 ideias para culto doméstico", sugere alternativas criativas para a integração da fé ao convívio
diário da família cristã. Uma das principais teses do autor é que essa
atividade não deve ser um “peso ou empecilho” ao convívio familiar.
Também, não precisa ser longa e nem necessita ser um momento debate
teológico. No momento agradável do culto familiar, Deus é adorado,
agradecido e invocado em relação às necessidades diárias dos seus
filhos. Nesse sentido, uma criança pode apresentar o nome de um colega
da escola por quem ela pede orações, o pai, compartilhar suas
dificuldades no trabalho e a mãe, agradecer pelas bênçãos recebidas.
Para aqueles que não têm o costume de realizar o culto doméstico,
gostaria de compartilhar algumas razões para começarem a fazê-lo o mais
rápido possível. Espero, com isso, persuadi-los a esse respeito.
1 - Deus é digno de ser adorado no contexto familiar.
Este é o ensinamento da Bíblia. Embora não haja nenhum comando direto
sobre o culto familiar, está implícito nas páginas das Escrituras que os
servos de Deus o adoravam primeiramente no ambiente familiar. Por
exemplo, quando Isaque perguntou ao seu pai: “Onde está o cordeiro para
holocausto?” (Gn 22.7), ele sabia que algo estava faltando na adoração,
porque Abraão já havia instruído o filho naquela prática cúltica.
Também, Jó conduzia seus filhos à realização de sacrifícios logo após
qualquer um deles organizar um banquete e isso ele o fez “continuamente”
(Jó 1.5). Ainda é possível se lembrar do mandamento de Deus aos pais
para inculcar sua Palavra aos seus filhos em toda oportunidade de
convívio familiar (cf. Dt 6.6-9). No Novo Testamento, encontramos o
apóstolo Pedro exortando os maridos a tratarem suas esposas “com
dignidade”, a razão por ele apresentada foi “para que não se interrompam
as vossas orações” (1Pe 3.7). Nesse sentido, ele não se referia apenas à
oração do marido, mas à oração mútua do casal. Aparentemente, o
apóstolo assumiu que os casais oravam juntos em casa. A verdade é que as
Escrituras indicam que os servos de Deus o adoravam no ambiente
familiar desde os tempos mais remotos. Assim, essa prática deve fazer
parte do cotidiano daqueles que professam temer o Senhor.
2 - Esse é um excelente momento para comunicar o evangelho diariamente aos membros da família.
Todos temos a necessidade de “pregar o evangelho uns aos outros”. O
culto doméstico nos oferece uma excelente oportunidade de fazer isso. Se
você tem filhos, você está seguro de que eles compreendem claramente a
mensagem do evangelho? Ainda que eles já tenham realizado sua pública
profissão de fé, você tem certeza de que eles conseguem integrar a fé
cristã às suas atividades diárias? Por outro lado, todos sabemos que
dependemos uns dos outros e das orações uns pelos outros. Que melhor
momento você poderia pedir para alguém de sua família orar por você? Que
melhor ocasião poderia perguntar a alguém quais são suas necessidades
de intercessão? Não presuma que outras pessoas de sua família irão
facilmente, e em todo o momento, compartilhar suas lutas e necessidades
com você se elas não tiverem o ambiente e liberdade para isso. O culto
doméstico auxilia nesse sentido.
3 - Essa é uma boa ocasião para seus filhos verem o exemplo espiritual positivo e contínuo de seus pais na vida real.
Geralmente, durante a vida diária em sua casa, os filhos vêm os piores
momentos de seus pais. Eles testemunham até as ocasiões que seus pais
não estão agindo como cristãos, quando não estão descansando em Deus e
nem depositando sua esperança nele. Certifique-se de que eles também
tenham a oportunidade de testificar a devoção e a fé dos mesmos quando
estão contritos diante de Jesus e desejosos de aprender da Palavra de
Deus. O culto doméstico pode ser uma oportunidade para isso. Em outras
palavras, ofereça a oportunidade de seus filhos observarem como seus
pais são homem e mulher que sabem que são imperfeitos e pecadores, mas
que estão dispostos a serem corrigidos pelos ensinamentos bíblicos e
terem um lar onde Cristo é o centro. Deixe claro a eles que seus pais
não são hipócritas, que divorciam sua vida diária da fé dominical, mas
pessoas que regularmente recorrem ao Senhor em adoração, tanto para
obterem graça, quanto para receberem correção. O culto doméstico é um
momento onde pecadores redimidos se humilham diante de Jesus e
reconhecem sua dependência dele. Dessa maneira, logo perceberemos que
essa ocasião também promove a confissão, o perdão e a restauração de que
toda família saudável necessita.
Concluindo, não deveria ser necessário tentar persuadir cristãos
quanto à importância do culto doméstico, mas como a prática se tornou
tão rara, é possível que alguns necessitem ser lembrados de algumas
razões em relação à essa prática. Se esse for o seu caso, espero ter
atingido meu propósito e que você comece a realizar esse culto o mais
rápido possível.
Pr. Valdeci Santos