A tradição cristã até pouco tempo não permitia a participação das crianças na ceia, tendo por critério o fato de elas não compreenderem seu real significado. Na IECLB, foi instituído que a confirmação, por volta dos 14 anos, marcava a primeira participação na ceia. Por que, a partir de agora, esta situação tem mudado e as crianças têm sido convidadas a participar da ceia?
Inicialmente, é necessário dizer que a igreja primitiva incluía as crianças no momento da ceia, junto com os adultos. Não havia distinção de idade para celebrar a santa ceia. Esta separação foi posterior. Mas, antes de entrar no mérito da questão, vamos analisar algumas conceituações.
1. O que significa Santa Ceia? É a comunhão dos cristãos a partir do corpo e sangue de Cristo. Ao participar da ceia, estamos recebendo o Corpo e o Sangue de Cristo, que se fazem presentes no pão e no vinho, respectivamente. A ceia deve ser realizada até a volta de Jesus (1 Co 11.26), como sinal do Seu sacrifício que traz perdão de pecados e celebrando a nova vida que Ele nos dá.
2. Quem pode participar da ceia? A rigor, todos que foram batizados e desejam viver com Jesus são convidados a participar da ceia. Se tomarmos como exemplo a última ceia de Jesus Cristo, até mesmo Judas estava presente. Jesus não o excluiu da comunhão, mesmo sabendo que ele iria traí-lo. Porém, em 1 Co 11.27ss, o apóstolo Paulo nos adverte que devemos examinar a nós mesmos, para não tomarmos a ceia indignamente.
3. O que é tomar a ceia indignamente? Tomar a ceia apenas como um ritual e continuar vivendo no pecado, sem arrependimento. Todo aquele que participa da ceia tem o compromisso de viver a partir da Palavra, caso contrário, tomará a ceia para seu próprio juízo e condenação (1 Co 11.29).
Diante destas considerações, podemos concluir que, se as crianças podem receber a Jesus como seu Senhor e Salvador e ter uma vida com Ele, então elas também podem também participar da ceia. Cremos que Jesus ama e veio dar a sua vida por todos, o que inclui as crianças também, por isso elas podem ser convidadas a participar deste momento. Mas, as crianças têm condições de examinarem a si mesmas?
Esta pergunta não tem uma resposta simples. Todo ser humano nasce em pecado (Rm 3.23). Desde bem pequenas as crianças têm a noção de certo e errado, mas elas precisam ser advertidas e corrigidas. Esta noção foi dada pelo próprio Deus, portanto, toda criança deveria ser estimulada a refletir sobre seus erros e a mudar sua conduta segundo a Palavra de Deus.
Todavia, não temos como mensurar a partir de que idade a criança consegue refletir sobre sua vida de fé. Por isso, deve ser incentivado, desde pequenas, o contato com a Palavra, pois é justamente na primeira infância que temos o período de maior desenvolvimento cerebral. A psicologia afirma que a construção do caráter da criança se dá até os 5 anos de idade.
A participação na ceia adquire uma dimensão pedagógica também para as crianças, pois quando ela participa da ceia, os conteúdos de fé podem ser mais facilmente compreendidos. Pelo fato da ceia envolver todos os sentidos (visão, audição, olfato, paladar, tato), pode se tornar um excelente instrumento pedagógico para as crianças assimilarem o sacrifício de Cristo. Pesquisas mostram que a faixa etária de 5 a 15 anos é a idade mais fértil para chegar à fé em Cristo. Por isso, precisamos sem dúvida investir mais esforço na inclusão das crianças na igreja. Se as crianças podem ser batizadas, então também não deveriam ser impedidas de participar da ceia. Mas de maneira nenhuma deve ser oculto o compromisso que esta participação envolve.
Para isso, é necessário que antes da ceia, haja um momento de reflexão que estimule cada pessoa a examinar sua conduta e reconhecer os pecados diante de Deus. As crianças não podem ser excluídas deste momento. O ideal seria que a pessoa que conduz a ceia fale em uma linguagem simples, que a criança possa compreender também.
Lutero, Reformador da Igreja, dizia que os pais são responsáveis pela educação cristã de seus filhos, devendo explicar-lhes os conteúdos da fé . Desta forma, os pais devem decidir sobre a participação das crianças na ceia, pois são responsáveis por estabelecer a comunhão da criança com a Palavra, para que cada vez mais este desejo de conhecer a Deus esteja presente em suas vidas. Mas é preciso que os pais, em primeiro lugar, compreendam o seu significado e também assumam o compromisso que guiarem seus filhos segundo esta Palavra.
Por fim, apesar dos argumentos citados e da convicção de que as crianças também são convidadas à ceia, isso não significa um acesso indiscriminado das crianças a este momento. É preciso primeiramente que elas sejam batizadas, que manifestem o desejo de participar e que seja dialogado com elas a respeito do assunto. Esta tarefa compete, como já foi citado, aos pais e também à igreja.
- por Joseane Elisa Mueller Dutra